Lameblogadas

domingo, março 09, 2008

Flor da idade (Chico Buarque/1973)

A gente faz hora, faz fila na vila do meio dia
Pra ver Maria
A gente almoça e só se coça e se roça e só se vicia
A porta dela não tem tramela
A janela é sem gelosia
Nem desconfia
Ai, a primeira festa, a primeira fresta, o primeiro amor

Na hora certa, a casa aberta, o pijama aberto, a família
A armadilha
A mesa posta de peixe, deixe um cheirinho da sua filha
Ela vive parada no sucesso do rádio de pilha
Que maravilha
Ai, o primeiro copo, o primeiro corpo, o primeiro amor

Vê passar ela, como dança, balança, avança e recua
A gente sua
A roupa suja da cuja se lava no meio da rua
Despudorada, dada, à danada agrada andar seminua
E continua
Ai, a primeira dama, o primeiro drama, o primeiro amor

Carlos amava Dora que amava Lia que amava Léa que amava Paulo
Que amava Juca que amava Dora que amava Carlos que amava Dora
Que amava Rita que amava Dito que amava Rita que amava Dito que amava Rita que amava Carlos amava Dora que amava Pedro que amava tanto que amava
a filha que amava Carlos que amava Dora que amava toda a quadrilha


Na redação

quarta-feira, março 05, 2008

Bem Querer
Chico Buarque/1975
Para a peça Gota d´água, de Chico Buarque e Paulo Pontes

Quando o meu bem querer me vir
Estou certa que há de vir atrás
Há de me seguir por todos
Todos, todos, todos os umbrais

E quando o seu bem querer mentir
Que não vai haver adeus jamais
Há de responder com juras
Juras, juras, juras imorais

E quando o meu bem querer sentir
Que o amor é coisa tão fugaz
Há de me abraçar com a garra
A garra, a garra, a garra dos mortais

E quando o seu bem querer pedir
Pra você ficar um pouco mais
Há que me afagar com a calma
A calma, a calma, a calma dos casais

E quando o meu bem querer ouvir
O meu coração bater demais
Há de me rasgar com a fúria
A fúria, a fúria, a fúria assim dos animais

E quando o seu bem querer dormir
Tome conta que ele sonhe em paz
Como alguém que lhe apagasse a luz
Vedasse a porta e abrisse o gás

sexta-feira, fevereiro 22, 2008

Confesso que, à primeira vista, tive medo dele. Não à toa alguém é conhecido por Pinel, né? Mas, no caso do João, não havia motivo para temer. Criatura doce, do bem, mais um desses "malucos" que freqüentam o Bip Bip, o boteco onde o diferente é tratado como igual (perdoem o clichê).

Quando o João Pinel se aproximou pela primeira vez de mim, quase arrancou a faixa multicolorida do meu cabelo. Foi um gesto um pouco bruto, mas de puro carinho. Ele, percebendo que eu era nova no pedaço que ele conhecia tão bem, tratou de se chegar. Puxou assunto, elogiou a faixa e ficou até meu amigo por um dia.

Fui pouquíssimas vezes ao Bip, muito menos do que eu gostaria, e tenho poucos casos para lembrar do João. Mas um deles é o que me veio à mente ontem, ao saber a notícia de sua morte: a roda de samba comia solta, os amigos cantando Caymmi e o João comentando as letras, embora parecesse estar fora de órbita. Quando puxaram "É doce morrer no mar", ele não parava de interromper: "Doce coisa nenhuma. O mar é salgado, pô". Toda vez que os meninos cantavam o refrão, ele repetia a máxima. Dentro daquela sua lógica, a morte não tem direito à poesia. Dói, é um fim, machuca.

João Pinel escolheu a sua Almirante Gonçalves para morrer. Num raro momento de lucidez, ateou fogo ao corpo numa manhã em Copacabana, bem em frente ao Bip, enquanto o Alfredinho dormia, a uma distância segura dali. Não queria que ninguém o atrapalhasse. Que descanse em paz.

É doce morrer no mar (Dorival Caymmi)

É doce morrer no mar,
Nas ondas verdes do mar
A noite que ele não veio foi,
Foi de tristeza pra mim
Saveiro voltou sozinho
Triste noite foi pra mim
É doce...
Saveiro partiu de noite, foi
Madrugada não voltou
O marinheiro bonito
Sereia do mar levou.
É doce...
Nas ondas verdes do mar, meu bem
Ele se foi afogar
Fez sua cama de noivo
No colo de Iemanjá

quinta-feira, fevereiro 07, 2008


Carnaval 2008
Trapiche Gamboa
"Um casal bem brasileiro"

quarta-feira, janeiro 30, 2008

A Flávia, mais conhecida como F., me passou um meme (se quiserem saber o que é, no blog dela, Neguinha suburbana, linkado aí ao lado, tem uma ótima explicação). Mas o negócio é simples: é só responder a umas perguntas e repassar o questionário para os amigos. A comparação é estapafúrdia, mas isso me fez lembrar os antigos cadernos de perguntas e respostas, que as meninas renovávamos todo ano, principalmente no início das aulas, e repássavamos para novas e antigas amigas. Era ótimo. Como eu tinha amigas um pouco mais velhas na vila em que morava, uma vez respondi a um que tinha uma pergunta sobre sexo, que eu não poderia responder, elas avisaram, porque eu era "café-com-leite". Ser chamada de café-com-leite era a pior das humilhações nas brincadeiras: significava que você era pequena demais, criança demais ou mulherzinha demais, sem capacidade física para determinadas coisas. Pior: você não contava pontos, era só figuração. Ah, o horror, o horror!

Mas vamos ao meme:

1. O que você estava fazendo em 1978 (há 30 anos)?

Eu tinha três anos. Segundo minha mãe, gostava de ver a Sônia Braga em Dancin' Days e tinha uma meia de lurex colorida, igual às que ela usava na novela - e que virou febre nacional naquele ano. Pulava da cama cedo quando ela dizia a frase mágica: "vamos à praia hoje". Comia beiju, comprado pelo meu avô, que morava no apartamento de cima e todo dia vinha me perguntar que bicho ia dar hoje: "vaca, vovô", eu sempre respondia. A minha vó me levava ao Horto para passear e, na volta, me dava chiclete, escondido da mãe. "É uma chata", ela dizia sobre a nora.

2. E em 1983, há 25?

Eu tinha 8 anos. Já tinha me mudado para São Gonçalo (que idéia dos meus pais!!!!), estava na terceira série. Não sei o motivo, mas naquela época, para mim, chegar nesse estágio era quase tão importante quanto fazer 18 anos. Minha professora se chamava Regina. Ela não pintava o cabelo, não usava batom nem brincos, mas era casada e tinha três filhos (todos eles estudavam na escola, que se chamava Monteiro Lobato). Por desprovida de vaidade, ela não aceitava que as alunas entrassem em aula com batom, saia muito curta ou unhas pintadas. Chiclete também era proibidíssimo e, quem fosse pego, ficava de castigo! Outro dia a encontrei num casamento, com a mesma sobriedade de outrora e os cabelos ainda mais brancos. Chorei de emoção.

3. O que você estava fazendo em 1988?

Estava comemorando o primeiro campeonato de Ayrton Senna, numa corrida inesquecível em Suzuka, no Grande Prêmio do Japão. Senna largou em 16º, ultrapassou Prost (e muitos outros sem importância agora) e chegou em primeiro. Foi a madrugada mais feliz do ano.
Um pouco antes, tinha comemorado o bicampeonato do Vasco, com gol de Cocada (irmão de Müller) aos 42 minutos do segundo tempo, contra o Flamengo. Lia os jornais compulsivamente, recortava todos as notícias de esporte que me interessava, vinha pra casa correndo da escola pra ver e gravar os gols do Vasco no Globo Esporte. Também gravava as corridas do Senna. (As fitas estão em estado deplorável).

4. E em 1993?

Entrando na faculdade de Economia, fazendo curso de DATILOGRAFIA (naquela época, os cursinhos eram tomados pelas máquinas de escrever, e os computadores ocupavam 1/4 das salas), gostando de axé (iria passar o carnaval em Porto Seguro um ano depois), adorando as chopadas da Economia, detestando a maioria das aulas, sofrendo por achar que tinha feito a escolha errada.

5. O que estava fazendo há 10 anos?

Trocando a faculdade de Economia, com anos de atraso, pela de Comunicação. Conhecendo os meus melhores amigos, formando a comunidade chamada Caroço, conhecendo Glauber, Chico Buarque e Nelson Rodrigues, abrindo meus horizontes intelectuais, aprendendo a poesia, tomando cachaça pela primeira vez, começando a ser o que sou hoje.

6. E há cinco?

Em 2003, comecei a freqüentar o Bip Bip e conheci o amor da minha vida. A partir daí, muito samba, amor, amigos novos, volta dos antigos. Enfim, só felicidade.

É só. Queria ter falado de outros anos também. :)

Agora, passo o meme para Juli, Déa, Gi, Gui e Lu.

domingo, dezembro 30, 2007

Cenas do carnaval carioca

O Rio tem dessas magias que, instantaneamente, nos faz esquecer de todas as suas mazelas e é durante o carnaval que elas mais freqüentemente acontecem. Os foliões cariocas protagonizam cenas lindas, como as de ontem no bailão do Cordão do Boitatá, na Parada da Lapa, um pedacinho da Fundição Progresso em frente aos Arcos. Pedrinho Miranda, Kiko Horta e cia. sacudiam o público com a marchinha "Máscara Negra", no trecho que diz "Vou beijar-te agora/não me leve a mal/hoje é carnaval", quando os passageiros do bondinho que passava pelos Arcos começaram a acenar. O motorneiro entendeu o recado, parou o bonde e o baile inteiro virou-se para o lado dos trilhos, dançando e cantando junto com os que iam no trem. Acabada a música, o bonde seguiu viagem e o baile esquentou ainda mais.

Para o amigo Marcelo Moutinho, teve uma cena imperiana. O segurança ao meu lado se esforçava para cantar baixinho o repertório do Boitatá, afinal não podia sair da linha, levantar os braços e cair na folia com o povo, né? De repente, um outro segurança, de terno preto, que chegava para trabalhar na noite da Fundição, chega no alambrado, cutuca o amigo e canta o samba num vozeirão de puxador: "Joaquim José da Silva Xavier/Era o nome de Tiradentes/Foi sacrificado pela nossa liberdade/Este grande herói/Pra sempre há de ser lembrado". Foi o bastante para animar o colega do lado de dentro, que cantou junto o samba de 1949 do Império Serrano, levantou um pouco os braços (sem dar muita pinta, claro) e até arriscou a ensaiar as gargalhadas de "Ride, palhaço", marcha de Lamartine Babo que Pedrinho Miranda ensinava ao público, sob o olhar cúmplice da blogueira, que se lembrava do amigo de Madureira naquele momento.

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É muito bom brincar o carnaval no Rio. Como esse ano, infelizmente, a folia será cedinho, cedinho, no início de fevereiro, vamos ter um janeiro repleto de blocos, bailes, ensaios e folguedos. Para quem é do riscado, vale a pena fazer uma visitinha ao Saara já na primeira semana do ano e garantir os adereços e alegorias. Acompanhar a agenda pelo blog da Ju Rangel (http://oglobo.globo.com/blogs/blognarua/) já faz parte da programação. Temos também uma agenda feita pelo vereador Eliomar Coelho, que está sendo distribuída por aí (pegamos a nossa no Espaço de Cinema), e também disponível na internet (http://www.eliomar.com.br/arquivostexto/RQEInternet.pdf).

No mais, é aproveitar o sol, malhar um pouquinho para manter a forma e ter fôlego para agüentar o tranco. E acordar cedo para o Cordão do Bola Preta.

quarta-feira, dezembro 26, 2007
















































































Qual o seu nome?
"É Cámi"